Regulamentação do Ensino Privado já!

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Gabriel Henryci, Diretor de Direitos Humanos da UEE-RJ (Eleito pela tese REBELE-SE) depõe na CPI

CPI das privadas no Rio de Janeiro pede o indiciamento de 6 pessoas, entre eles reitores e donos de mantenedoras.

     No dia 18 de abril foi aprovado o relatório final da CPI das Instituições de Ensino Superior Privadas, instaurada pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) em julho de 2012, presidida pelo deputado Paulo Ramos (PDT) e com relatoria do deputado Robson Leite (PT).  Durante dez meses de trabalho a CPI ouviu representantes de sindicatos, federações, reitores, representantes das mantenedoras e representantes de entidades estudantis.

      O relatório apresentou denuncias de irregularidades no funcionamento de algumas universidades: venda de diplomas; apropriação indébita de recursos; convênio de IES filantrópicas com empresas de fins lucrativos (proibido por lei); ilegalidade na compra de imóveis utilizando-se da filantropia; sonegação de impostos; atrasos e falta de pagamentos aos professores e técnicos-administrativos; não pagamento de  imposto sindical, INSS e FGTS; aumento abusivo de mensalidades em 64 instituições; convênios com prefeituras sem licitações; irregularidades em vendas e fusões de instituições.

        Há muito já sabemos que a situação do ensino superior privado no Brasil não é boa. As vagas nesse setor cresceram de maneira descontrolada, principalmente depois que o Governo Federal criou o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Financiamento Estudantil (FIES). Essa expansão não foi acompanhada por uma ampliação da fiscalização da qualidade dos cursos por parte do Ministério da Educação (MEC). Uma das questões abordadas pela CPI é a qualificação acadêmica não levar em conta a saúde financeira das instituições. A fiscalização financeira deveria ser feita por auditores fiscais e não por professores.

     Os donos das IES Privadas usam a falta de pagamento das mensalidades como justificativa para a falta de investimentos na estrutura e qualificação do corpo docente. No entanto esse argumento vem caindo por terra nas instituições que possuem FIES. Segundo Robson Leite, o programa diminuiu drasticamente os índices de inadimplência.  Os lucros nas IES privadas bateram recordes nos últimos anos, exemplo disso é a Kroton Educacional que obteve um crescimento de 99% em 2012, e acaba de fundir-se com a Anhanguera Educacional, transformando-se num dos maiores conglomerados “educacionais” do mundo. Agora, o grupo tem mais estudantes no Brasil que todas as universidades federais juntas!

       Uma das artimanhas mais utilizada pelas administrações das instituições para investir menos e lucrar mais é o Ensino a Distância, que somente no Rio teve um crescimento de 80% em 10 anos (5.359 vagas em 2001 e 930.179 vagas em 2010). Existem cursos sem as mínimas estruturas de acompanhamento necessárias para o bom desenvolvimento do graduando à distância.  O MEC mais uma vez falha na fiscalização das condições nas quais essas graduações são oferecidas. A maioria das universidades substitui disciplinas de cursos presenciais com aulas online, prejudicando o aproveitamento total do currículo na aprendizagem dos estudantes.

        A CPI foi importantíssima para o levantamento de provas da existência de todas essas irregularidades.  A situação mais

Aprovação do relatório da CPI. DCE UNISUAM na mesa, representado por sua presidenta Katerine Oliveira.

Aprovação do relatório da CPI. DCE UNISUAM na mesa, representado por sua presidenta Katerine Oliveira.

preocupante é da Universidade Gama Filho e do Centro Universitário da Cidade, instituições adquiridas pelo grupo Galileo Educacional, que vivem uma grave crise, devido ao não pagamento dos salários de professores e funcionários. O relatório da CPI pede a intervenção do MEC e a prisão de Márcio Andre Mendes, fundador da Galileo, acusado de apropriação indébita das mensalidades e formação de quadrilha.  O caso da Universidade Candido Mendes (UCAM) também é alarmante, acusada de usar o dinheiro do INSS e FGTS para abrir novos campi e associar-se a CM1 e CM2, instituições  com fins lucrativos. Para completar o Sr. Cândido Mendes de Almeida, reitor da UCAM e membro da Academia Brasileira de Letras, pode ter mentido em seu depoimento na CPI.

          Outras propostas dos membros da CPI são: não cadastramento de instituições com irregularidades  nos programas do governo, pois os benefícios recebidos por elas não são poucos; protocolar o PL 203, obrigando as universidades destinarem espaços físicos para as entidades de representação estudantil; intimar a Universidade Castelo Branco para dar explicações sobre o atraso dos pagamentos dos docentes; volta da representação do MEC no Rio de Janeiro; abertura da CPI nacional, pois muitas universidades têm sedes em outros estados, o que não permitiu investigações da CPI fluminense; proibição de investimentos de capital estrangeiro na educação brasileira e proibição de Sociedades Anônimas no controle das universidades.

          Será votada na ALERJ a criação  e os membros da comissão de acompanhamento das ações que devem ser realizadas para que obtenhamos resultados concretos a partir do relatório. Essa comissão será encarregada de apresentar o documento a Câmara Federal, ao Senado e aos presidentes das duas casas, aos presidentes das Comissões de Educação  da Câmara e do Senado e ao Ministro Aloísio Mercadante.

           Temos claro que todos esses problemas ocorrem devido a falta da regulamentação do ensino superior privado, a  mercantilização e desnacionalização da educação brasileira e a impunidade dos responsáveis por esses absurdos.  Por isso a mobilização dos estudantes deve aumentar em torno dessa bandeira. A União Nacional dos Estudantes deve assumir o seu papel de vanguarda e propor um documento de regulamentação,  lutar pela abertura de uma CPI nacional, que apure as irregularidades e puna os responsáveis por elas.

Katerine Oliveira é presidenta do DCE UNISUAM

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